sexta-feira, 24 de junho de 2011

Figuras de Almada (2): Padre António Soares de Albergaria, Historiador e Heraldista


(Retrato do Padre António Soares de Albergaria, 1632, in Tropheos lusitanos por Antonio Soares Albergaria)

Na obra Biblioteca Lusitana encontramos uma descrição biográfica e bibliográfica da obra daquele que foi um dos mais importantes escritores e genealogistas portugueses do século XVII:
«Naceo na Villa de Castello Branco no Bispado da Guarda em o anno de 1581, e foy filho de Fernaõ Rodriguez de Coimbra, e Francisca Soares de Albergaria ambos das famílias mais nobres da Villa de Veyros.
Ordenado de Presbytero, obteve hum Benefício na Parochial Igreja de Santo Estevão de Lisboa, e foy Capellão das Capellas de Santo Eutrópio cuja vida escreveo, e de S. Matheos de Lisboa.
Teve bom engenho, feliz memória, e continua applicação aos livros principalmente históricos, e Genealógicos (…).
Retirou-se a huma Quinta que herdou junto de Almada, e edificou huma Ermida dedicada a Jesus Maria Jozé no Caminho, que vay de Casilhas para N. Senhora do Cabo onde viveo parcamente.



(Frontispício da Obra Tropheos lusitanos, 1632, pelo Padre António Soares Albergaria)
Compoz:
- Trofeos Lusitanos. Lisboa por Jorge Rodrigues, 1631-1632. 4. Consta dos brazoens das famílias ilustres deste Reyno;
- Resposta a certas objeçoens sobre os Trofeos Lufitanos. Lisboa pelo mefmo impressor. 1634. 4. Na obra precedente a esta se vê o seu Retrato com elle epigramma na parte inferior. Vera est Authoris gravis hac quam cernis imago Sat notat hac maius fronte nitere Deus. Antoni entitulos duplex tibi reddit imago Hac faciem ingenij fthemmata reddit opus.;
- Triumfos da Nobreza Lusitana, e origem de seus brazoens. 6. Tom. Tratava nelles de quatrocentas famílias do Reyno, que certamente estarião acabados, e entregues à Impressaõ porém (são palavras do mesmo Author no Prologo dos Trofeos Lusitanos) nenhuma cousa se começa bem, se não he depois de Deos, de algum grande Príncipe favorecida, 2. Tomos desta obra se confervão escritos da sua própria mão na Livraria do Convento da Graça de Lisboa, como também
- Chronica dos Reys de Portugal desde o Conde D. Henrique ate Felippe IV de Castella. fol. M. S.;
- Titulo de Coutinhos historiado. M. S. da sua própria mão se guarda na dita Livraria.;
- Livro de Armaria em que ensina, e declara todos os modos, e formas de escudos, e suas significaçoens. M. S.;
- Tratado dos Santos Portugueses. Com licenças para a Impressão no anno de 1639. Conserva-se M. S. na Livraria dos Padres da Congregação do Oratório de Lisboa.;
- Adágios em latim, e Portuguez M. S. (…)»

(Local da residência do Padre António Soares de Albergaria, junto a Almada, entre c. 1641 e 1654)

Como a diz a sua biografia o Padre António Soares de Albergaria retirou-se para uma quinta de Almada, o que terá acontecido antes de 1642 pois já nesse ano era residente em Almada, numa quinta do sítio da Alagoa, conforme se regista numa escritura feita em Lisboa em 28 de Abril de 1642, em que João Vieira da Câmara lhe faz doação de uma vinha (Index, T. III, p. 177).
Numa outra escritura, feita em Almada na nota de Manuel de Medeiros Caldeirão, em 26 de Outubro de 1643, o Padre António Soares de Albergaria é referido como sendo proprietário da vinha do Regil e morador na «sua quinta que está de trás da quinta dos Padres de S. Domingos» (DGARQ-ADS, Notariais de Almada, Cx. 4390, L. 044, f. 123).

Em 30 de Junho de 1654, o Padre António Soares de Albergaria vende a sua quinta da Alagoa, junto a Almada, a João Bornete (comerciante, morador na cidade de Lisboa), a qual constava então de:
«suas casas, e posso de água com sua nora, e mais com vinhas na dita quinta e outras fora da dita quinta, a saber a vinha do Regil e outra sita na Carvoeira, e outra que chamão as Figueiras e outra quando vai para Quebra Joelho».
A venda foi feita com licença dos Priores das Igrejas de Almada em Cabido dada em 8.7.1654, pois a quinta era em parte foreira às referidas Igrejas (Cfr. DGARQ-ADS, Cota 420: Livro do Tombo das Igrejas de Santa Maria do Castelo e São Tiago de Almada, f. 5V).

Esta quinta de Almada, que no século XVIII foi conhecida por Quinta do Bornete, e teve uma Ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição, citada no Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso (1747), correspondeu depois à Quinta do Galo, na zona do Centro-Sul, onde em 1973 se edificou o Centro Comercial Pão-de-Açúcar, hoje já desaparecido.

A razão para que tivesse vendido a sua quinta junto a Almada e adquirido uma nova propriedade no local extremo do concelho, parece resultar de uma certa vontade de viver isolado num quase eremitismo, pelo menos é o que se depreende dos apontamentos biográficos do Padre António Soares de Albergaria anteriormente citados.

São também os apontamentos biográficos de Diogo Barbosa de Machado, que nos confirmam a existência e fundação de uma Capela «no caminho de Cacilhas para a Nossa Senhora do Cabo», e que os documentos da Câmara Eclesiástica já descritos no post «Charneca de Caparica (2): Aroeira»  situam no Casal da Aroeira, na freguesia de Nossa Senhora do Monte de Caparica, última residência do Padre António Soares de Albergaria, onde terá falecido antes de 1662.

RUI M. MENDES
Caparica, 20 de Junho de 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário